Terça-feira, 23 de Abril de 2024
Terça-feira, 23 de Abril de 2024

Uma sociedade onde o “eu” se sobrepõe ao “nós”

> A opinião de Miguel Portela.

Estimados leitores estamos inseridos numa sociedade que vive a vida de forma demasiado ambiciosa e na procura incessante do que muitas vezes pouco, ou nada, acrescenta à sua verdadeira felicidade.

Vivemos como se fossemos viver para sempre, como se não houvesse um fim para a nossa existência, como se o mundo girasse em torno das nossas vontades e caprichos.

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Cada vez mais o “eu” se sobrepõe ao “nós”, o bem comum está cada vez mais esquecido, e o outro é apenas um meio para um fim pessoal.

O que que se procura no outro individuo é a utilidade, o que ele pode fazer por nós, não o que ele precisa, o que o faz feliz ou até o que poderemos fazer por ele. Esta vivencia faz com que a sociedade viva descentrada do bem comum e assim perdendo o sentido de comunidade e de pertença.

Caminhamos no sentido em que muitas pessoas, cada vez mais pessoas, são tão pobres, mas mesmo tão pobres, que a única coisa que têm é dinheiro.

Viemos a este mundo sem um cêntimo na nossa posse e partimos dele da mesma forma, despojados de tudo o que é material. Que vida sem sentido será desperdiçar todos os dias da nossa existência a colecionar algo que nunca irá connosco.

O que levamos connosco é a bondade que fizemos nesta passagem efémera por este mundo. Aqueles que passaram nas nossas vidas e que dessa passagem colheram algo de positivo, um sorriso, uma ajuda em tempos de necessidade, uma palavra amiga, um ensinamento ou até mesmo apenas a nossa companhia ou atenção, serão os nossos melhores legados que deixamos neste mundo.

Nesta corrida desenfreada em busca de poder, dinheiro e estatuto, passam ao lado das coisas que realmente interessam; a amizade, a partilha e a sã convivência com aqueles que nos rodeiam.

Que pior frustração do que perceber que, no final da nossa existência, desperdiçamos cada dia que aqui passamos, valorizando apenas o que é efémero e desprovido de benefícios para tudo o que nos rodeia.

Quantos, ao perceberem que estão a atingir o final da sua vida, não dariam todo o dinheiro que acumularam, por alguns minutos na companhia da família e dos bons amigos, amigos que nunca tiveram nas suas prioridades. Quantos não trocavam um império financeiro, que dessossegou toda a sua existência, por uns dias de vida em tranquilidade e paz com o que os rodeia.

Cada dia que aqui passamos, não pode ser um treino violento para o que queremos atingir no dia seguinte, um desassossego constante.

A sociedade foi inicialmente estruturada de forma a que o contributo de cada um beneficie as necessidades de todos, para que os mais desprovidos de capacidade para subsistirem, sejam protegidos e apoiados pelo todo.  Acontece que se está a desvirtuar uma das maiores conquistas da humanidade, a organização de todos nós em prol do bem comum e de uma cidadania consciente e harmoniosa.

Enquanto não percebermos que neste momento vivermos sozinhos no meio da multidão que nos rodeia, não poderemos voltar a sonhar em deixar para as futuras gerações algo melhor e que os beneficie. Deixaremos apenas os restos da ambição de cada um, pois cada um pensa só em si e no que pode ganhar com o que o rodeia e, desta forma, obrigamos aqueles que deixamos neste mundo a sobreviver, em vez de viver. Se percebermos a mudança que deve ser feita nas nossas vidas e a conseguirmos fazer, no fim da vida vamos perceber que fomos os mais ricos de todos. Isto, pois, demos mais do que o que recebemos, estivemos na vida daqueles que nos rodeiam nos momentos mais difíceis, onde fizemos a diferença nas suas principais necessidades e porque fizemos a nossa parte na construção de uma sociedade mais humanizada e centrada naquilo que realmente é mais importante.

Despeço-me com amizade.

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