“Não olhes para cima”, “Don’t Look Up2, é o nome de um filme dirigido por Adam McKay, uma sátira contundente aos políticos e a uma sociedade maioritariamente apática à crise do clima que vai fazendo o mundo agonizar. Neste filme Jennifer Lawrence e Leonardo Di Caprio são os personagens que vestem a pele de dois cientistas que descobrem um cometa que se dirige à terra, desencadeando algo muito difícil de aceitar ou acreditar: um embate que pode levar à extinção da vida na terra. Merril Strip veste a pele da Presidente dos Estados Unidos, uma mulher à imagem de Donald Trump, onde poder, dinheiro, interesses e mentira se combinam de forma hilariante com uma mensagem muito séria também: será que os poderosos, os invencíveis, terão a capacidade de parar o cometa que se dirige à terra e a pode destruir de forma irreparável?
E assim, este filme, que parecia uma espécie de comédia, revela-se uma tragédia que, no final, nos faz pensar muito, muito. Não se devem revelar os finais dos filmes, para não estragar o prazer de quem os vê, mas deve-se aprender as lições que, como este filme, se podem aprender. E este “Don’t look up” pode abrir horizontes, na nossa quase ingénua apatia, no que respeita ao futuro do nosso belo planeta azul. Todos tomamos por adquirido o futuro dos nossos filhos, uma vida em paz, um mundo onde se pode viver bem e felizes para sempre. Mas podemos estar enganados…
Vivemos todos numa serena bolha de sabão cor-de-rosa, enquanto ao nosso redor, nos topos dos governos de tantas nações, existem lutas de capoeira
Pensem no que a maioria das pessoas sente: não há pachorra para ouvir más notícias, para estudar assuntos chatos, ler opiniões diferentes de várias tendências, aprofundar conhecimentos sobre temas aborrecidos, como a crise do clima, a crise de refugiados, a fome, as crises energéticas, as ditaduras do mundo, a guerra, a dor e o que nos incomoda. Vivemos todos numa serena bolha de sabão cor-de-rosa, enquanto ao nosso redor, nos topos dos governos de tantas nações, existem lutas de capoeira, grupos que não olham a meios para atingir os fins, interesses que são sobretudo comandados por dois maestros: poder e dinheiro. Quem tiver mais dos dois, tem o comando do mundo.
A crítica neste filme é transversal: no fundo, a nossa sociedade moderna é treinada para ser quase acéfala. É obcecada pelo controle da tecnologia (que no final nos controla muito mais a nós do que nós a ela). É manipulada pela forma como os governantes e os media nos transmitem as notícias. Somos cordeirinhos enviados para o matadouro e nem piamos. Pensamos, muitos de nós, o que querem que pensemos. E isto é terrivelmente grave e paga-se de forma demasiado cara….
Neste filme os cientistas, com verdade e a prova da ciência, tentam alertar de todas as formas lógicas a presidente dos EUA e os líderes mundiais para o perigo iminente do meteorito destruir a terra. Todos se deviam unir com o propósito de destruir este meteorito antes de ele entrar na atmosfera. Mas, de início, os cientistas não são levados a sério. Até a prova ser mesmo irrefutável e uma equipa de emergência para gerir o problema ser criada, em segredo.
Mas, como conhecimento é poder, o melhor, entretanto, é manter a opinião pública alheada da realidade. “Não olhem para cima”!, o perigo do meteorito não é real. Não pensem, nós pensamos por vocês! Aliás o próprio meteorito não existe, é uma miragem, esqueçam esse disparate! – Dizem os líderes aos cidadãos, corroborados pelos agentes de notícias. E as pessoas, porque é mais fácil assim, acreditam.
Entretanto, o que faz a presidente, uma sátira nítida de Donal Trump? Faz um acordo com um bilionário e magnata, que controla a tecnologia de ponta do país. Ele tem a solução para bombardear o meteorito. Há uma hipótese de salvar o mundo! E o mundo rejubila, tudo se conjuga para ficarmos descansados: há sempre uma solução, não precisamos de nos preocupar, de “panicar”, de pensar no pior. O mundo assiste, como rebanho manso, ao desenrolar dos preparativos. No momento de detonar a bomba que iria destruir o meteorito, no entanto, o magnata da tecnologia convoca a presidente e diz-lhe que os minérios, a riqueza incomensurável que pode ser recolhida do cometa, representaria biliões e biliões de dólares em lucro. O cometa não pode ser destruído ainda…há outra solução que ele, expert em tecnologia, conseguirá gerir, extraindo o melhor de dois mundos: lucro e poder. E a missão é abortada…
Não digo mais nada. Vejam o filme. Digo apenas o que estou a tentar dizer desde o início: temos um mundo maravilhoso, somos felizardos porque temos comida na mesa, as nossas famílias seguras, a nossa vida a rolar. Temos tudo. Temos, claro, muita pena dos que não têm nada disso. Mas parece-nos sempre algo com solução e temporário. Nem sequer é diretamente um problema nosso. Refugiados? Vítimas de opressão? Vítimas de guerra? Líderes loucos capazes de rebentar o mundo e o destruir com o pressionar de um botão? A possibilidade de termos uma guerra nuclear que destruirá a vida de todo o planeta? Não!!!! Isso são tudo ideias muito imaginativas que só existem em filmes de ficção. No mundo real os vilões nunca são assim tão maus. Até o meteorito estar tão perto que não saberemos como o travar….
Queridos leitores, somos brutalmente felizes, porque vivemos em liberdade, em paz, em segurança. Não todos, mas muitos. Mas espero, oh como espero, que por causa da passividade de todos nós, cidadãos do mundo, um ou outro «louco» não nos roube de forma brutal essa felicidade que é dada por adquirida. Alguém duvida que, se todos os cidadãos comuns e anónimos do mundo, como eu e o leitor, se unissem na luta pelas verdadeiras causas que servem a humanidade, pela justiça, pela liberdade, nenhum exército nos poderia parar? Somos mais do que eles. Do que os que nos dizem para não olhar para cima…para não ver. Mas não sabemos usar essa vantagem.
Colocamos no poder os ditadores e os bons líderes. Podemos, com coragem, informação, conhecimento, pensamento esclarecido, exigir de quem nos governa que mantenha o mundo protegido de quem o pode querer destruir. De “meteoritos” assassinos que podem ser parados, se a ganância, o egoísmo, a hipocrisia, a cobardia e a sede de poder não forem mais fortes do que o bem comum do planeta e da humanidade. Este mundo chamado planeta terra é o nosso berço, o nosso colo querido, o nosso bem mais precioso e não há donos do mundo. Temos de ter a coragem de “olhar para cima” e ver! Ver mesmo… para saber onde estão os “meteoritos” e os neutralizar antes que nos destruam a todos e nos deixem a chorar dizendo: “afinal éramos tão felizes, e não sabíamos…”