O preconceito em relação ao Ensino Profissional está muito enraizado na nossa sociedade e está, sobretudo, relacionado com a perceção, enganadora, de que este apresenta uma qualidade inferior e que é destinado aos jovens que não encontram outras alternativas. Apesar disso, nos dias de hoje, o percurso no Ensino Profissional já é encarado de outra forma e os números provam que não é uma escolha de segunda linha. As vantagens salariais e de empregabilidade associadas a este tipo de ensino têm ajudado à sua credibilização.
O “Guia sobre o Ensino Profissional: uma escolha com futuro” da Fundação José Neves é uma ferramenta de apoio essencial para estudantes e respetivas famílias, que têm dúvidas sobre se esta via de ensino poderá ser uma boa escolha. O Guia reúne dados sobre os alunos e diplomados do Ensino Profissional, apresenta as vantagens e desvantagens deste tipo de ensino e deixa sugestões para quem pretende enveredar por esta via. A versão integral do guia está disponível para consulta ou download através deste link.
“É importante contrariar o preconceito relacionado com o Ensino Profissional e realçar as mais-valias desta via, que pode revelar-se bastante vantajosa, sobretudo no rápido ingresso no mercado de trabalho e no aspeto salarial no início da carreira, além de dotar o mercado de trabalho de profissionais qualificados e com experiência prática. É evidente que este tipo de ensino requer uma maior atualização de competências ao longo da vida, mas essa é uma realidade cada vez mais transversal no mercado de trabalho, independentemente da via que se escolha. Além disso, o Ensino Profissional permite prosseguir os estudos para o Ensino Superior”, salienta Carlos Oliveira, Presidente Executivo da Fundação José Neves.
O guia faz um diagnóstico da atual situação e deixa vários números que mostram a importância desta via de ensino:
- um terço dos jovens matriculados no ensino secundário frequenta um curso profissional.
- 14 meses depois de concluírem um curso profissional, 51% dos jovens estavam a trabalhar e 9% estavam simultaneamente a trabalhar e a estudar.
- no início da vida profissional, um jovem com o ensino secundário que tenha optado pelo Ensino Profissional terá maior probabilidade de obter emprego e uma remuneração mais elevada do que quem tenha optado pelo Ensino Científico-humanístico.
- 1 em cada 5 jovens que concluíram cursos profissionais obtém emprego na empresa onde estagiou.
- um terço dos jovens que concluíram um curso profissional optam por prosseguir os estudos. 22% destes frequentaram uma licenciatura numa universidade, 23% frequentaram uma licenciatura num instituto politécnico. Quase metade (48%) preferiu inscrever-se num curso Técnico Superior Profissional (TeSP).
Em Portugal, a oferta de cursos é bastante vasta e está organizada por Áreas de Educação e Formação, sendo estas as que têm mais ofertas formativas: Ciências Informáticas, Hotelaria e Restauração, Audiovisuais e Produção nos Media, Turismo e Lazer e Desporto.
O Ensino Profissional é uma prioridade internacional e várias organizações têm insistido na sua importância estratégica. A nível europeu, o Centro Europeu para o Desenvolvimento Profissional (CEDEFOP) reconhece que esta via de ensino oferece um conjunto alargado de benefícios económicos e sociais para os indivíduos, empresas, organizações e sociedade em geral, tais como: maior capacidade de corresponder às necessidades do mercado de trabalho, acesso a salários competitivos no início da vida profissional e inúmeras oportunidades de progresso nas carreiras profissionais.
O país acompanha a valorização do Ensino Profissional e definiu como objetivo ter, até 2030, 55% dos diplomados do ensino secundário pela via profissionalizante, reconhecendo que uma mão-de-obra mais qualificada, com mais competências cognitivas, analíticas e digitais é fundamental para o desenvolvimento económico do país. Em 2021 este valor era de 37%, portanto, há um longo caminho a percorrer para atingir essa meta.
O preconceito associado ao Ensino Profissional continua muito enraizado na nossa sociedade, mas é enganador
Um estudo europeu realizado pela Mckinsey (2013) inquiriu mais de 5.200 jovens de 8 países (incluindo Portugal) e revela que os próprios jovens assumem o preconceito associado ao Ensino Profissional. Em cinco países, os estudantes que concluíram uma licenciatura universitária consideram que a sociedade valoriza mais um curso académico do que cursos profissionais. No entanto, 80% acreditam que esta via teria, provavelmente, sido mais útil para encontrarem um emprego e 63% referem que teriam preferido optar pelo Ensino Profissional.
O preconceito inicial contrasta com as necessidades de recrutamento das empresas. Num inquérito sobre este tema, as empresas indicaram que metade das suas necessidades de recrutamento futuras serão de trabalhadores com formação profissional e que já enfrentam dificuldades em encontrar trabalhadores com este tipo de ensino, em particular Técnicos de restaurante/bar e Eletricistas de instalações.
O preconceito também não é coerente com as vantagens à entrada para o mercado de trabalho que os jovens com o Ensino Profissional apresentam – maior empregabilidade e salários mais elevados -, face aos jovens que terminaram o ensino secundário pela via científico-humanística. No entanto, é necessário realçar que essas vantagens têm tendência a esbater-se e que podem converter-se em desvantagem no futuro, pelo facto de o Ensino Profissional formar os alunos para profissões concretas, com base na tecnologia e no conhecimento existentes no momento da formação, e que podem ficar rapidamente desatualizados. Para manter relevância no mercado de trabalho, é fundamental a aposta na aprendizagem e na atualização das competências ao longo da vida.
De resto, esta é uma aposta relevante para todos os trabalhadores, razão pela qual a Fundação José Neves disponibiliza um Guia sobre como aprender ao longo da vida, que pode ser consultado na íntegra através deste link.
Apesar de os cursos profissionais abrirem portas para o mercado de trabalho, existem muitos outros caminhos para quem pretenda continuar a sua formação e melhorar as suas competências profissionais. Alguns cursos do ensino superior, maioritariamente em Institutos Politécnicos, preveem concursos especiais de acesso para alunos oriundos dos cursos profissionais.