Quinta-feira, 25 de Abril de 2024
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Paulo Martins dá nova vida à Escola Livre de Azeméis. Das dívidas a um projeto ambicioso

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No final de um treino de veteranos da Escola Livre de Azeméis, Paulo Martins tomou conhecimento que o clube atravessava sérias dificuldades financeiras. Não havia sequer dinheiro para comprar uma garrafa de lixívia. A parte desse momento o empresário decidiu entrar em ação. Aproveitou uma das assembleias gerais do clube para demonstrar a sua disponibilidade em assumir a liderança, e salvar o clube.

A Escola Livre de Azeméis tinha ameaça de corte de água e de luz, e não havia gasóleo para aquecer a água dos balneários. Entre dívidas ao Fisco, à Federação Portuguesa de Hóquei em Patins, à Associação Patinagem de Aveiro, despesas correntes e subsídios de jogadores, a dívida cifrava-se na ordem dos 35 mil euros. Mais uns meses, e o clube morria. Um cenário impensável para Paulo Martins. Sentiu-se no dever de contornar a situação. A sua ligação à Escola Livre de Azeméis é umbilical. O seu pai chegou a ser presidente do clube, e considera que uma parte fundamental da sua formação teve origem na Escola Livre de Azeméis.

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Paulo Martins foi eleito presidente do clube no final de novembro de 2020, e ao final de um mês de ter sido conduzido no cargo conseguiu, com a colaboração de duas empresas liquidar grande parte da dívida. O projeto do clube também está delineado: tornar a Escola Livre de Azeméis num clube eclético e virado para a cidade, e ambiciona que o clube se torne satélite de uma equipa profissional de hóquei em patins da região e não descarta o objetivo de um dia de chegar à primeira divisão. Um dos clubes que Paulo Martins irá desafiar é a UD Oliveirense.

Azeméis.Net – Como é que encontrou a Escola Livre de Azeméis quando tomou posso posse como presidente do clube?

Paulo Martins – Não foi uma grande surpresa. Tomei a decisão, com mais um conjunto de amigos, abraçar este projeto precisamente por termos a consciência da grave dificuldade que o clube atravessava. Como o clube da Escola Livre era o clube da minha formação da modalidade de hóquei, como o meu pai foi um presidente do clube, eu entendi que, embora o meu tempo seja um pouco complicado de gerir ao abraçar mais este projeto, mas senti quase no dever de não deixar o clube morrer, porque estava mesmo na iminência de morrer.

Qual era a realidade efetiva do clube?

Tínhamos problemas nas finanças, por relaxo da anterior direção, tínhamos graves problemas com faturas de água, com faturas de energia elétrica, ainda temos, estamos a negociar, problemas com a Federação Portuguesa de Patinagem, com a Associação de Patinagem de Aveiro, encontramos o clube num estado um pouco… não vou dizer caótico, mas numa situação extremamente difícil.

Consegue quantificar o valor da dívida?

Estamos, neste momento, a fazer uma auditoria às contas, e tínhamos consciência de uns valores, e eles passaram a ser maiores, mas na ordem dos 35 mil euros.

Há informações a correr nos bastidores que referem que o pavilhão está, ou já esteve, na iminência de ser penhorado. Confirma esta informação?

O pavilhão nunca foi penhorado nem nunca esteve na iminência de ser penhorado. O que estamos aqui a falar não são dívidas que, no meu entender, obrigassem a penhorar o pavilhão, porque estamos a falar de várias entidades, valores que não fazem sentido penhorar o pavilhão. Os valores maiores até são da Associação de Patinagem de Aveiro, e não é nada de astronómico. O problema é que é o acumular de muitas faturas e o clube estava um bocado num beco sem saída. Até os apoios da Câmara Municipal que são essenciais para o clube, estavam na iminência de ser cortados por falta de entrega de documentos.

Documentos relacionados com o quê?

A Câmara Municipal não pode disponibilizar verbas se não houver uma declaração de não dívidas à Segurança Social e às Finanças. À Segurança Social para nos não é relevante porque nós não temos funcionários, mas havia dívidas às finanças. E só por isso congelavam-nos verbas como também a falta de entrega de documentos a comprovar que a Escola Livre se candidatou a fazer benfeitorias. Havia um desleixo da parte burocrática da anterior direção porque a verdade real nua e crua é que não havia direção. Havia um elemento que fazia de direção, e mal de mim se chego a um ponto destes. Na direção tem de haver um conjunto de elementos que cada um possa fazer um bocadinho, e cada um assumir as suas responsabilidades.

Quando diz que o clube estava na iminência de fechar, estamos a falar de um prazo de quanto tempo?

Por muito pouco tempo… O pavilhão não encerrava, mas tínhamos ameaça de corte de água, ameaça de corte de energia, o município estava a exigir devolução de verbas quando até tínhamos verbas para receber, mas como não apresentávamos comprovativos das obras realizadas… Não havia água quente porque não havia gasóleo para o aquecimento. Até que no final de um célebre treino o funcionário que dá apoio ao pavilhão, sabendo que eu fazia parte da Assembleia, veio levantar-me uma questão, se eu fazia parte da direção. Veio lamentar-se e alertar-me para os problemas do clube. Como pessoa que vinha abrir e fecha pavilhão, e tratava dos equipamentos, lamentava-se não haver produtos de higiene, coisas que custam poucos euros. Nesse treino por coincidência ou não, era eu e o Rui da pastelaria Laranjeira que estávamos a sair, éramos os últimos a sair do balneário, e por coincidência quer o meu pai, quer o pai dele, já foram presidentes do clube quando se ergue este pavilhão, e virámos um para o outro e dissemos que tínhamos de fazer alguma coisa. Eu já tinha algumas suspeitas que o clube estava com graves dificuldades, mas nunca ao ponto de não ter dinheiro para um garrafão de lixívia. Isto é o extremo dos extremos. COmo havia uma Assembleia a realizar eu disse, não vamos adiar mais. Temos de fazer alguma coisa pelo clube. Porque hoje isto é um clube pequeno, ninguém quer vir para estes clubes. Aliás, eu reuni um grupo de amigos que está a fazer um trabalho fantástico. UQer da parte de secretaria, quer da parte de contabilidade, quer da parte de apoios. Estamos a dividir e a reunir uma série de apoios, e organizar o trabalho de uma forma fantástica.

Qual foram os passes seguintes?

Foi arranjar duas empresas que se sacrificaram a emprestarem-nos dinheiros. São empresas que têm muitas relações connoscos e que puseram aqui dinheiro para pagar as dívidas emergentes.

Os 35 mil euros já foram pagos?

Os 35 mil euros não, mas 25 mil já. Os outros estamos a tentar negociar com a Associação, com a Federação. Tenho boas relações com eles, expusemos o problema. Não nos podemos esquecer que se calhar os problemas que a Escola Livre está a atravessar, pode ser transversal a muitos mais clubes. A federação ajustou as suas tabelas de custos com o desconto Covid, a Associação e de patinagem de Aveiro não. Já expus esse problema ao presidente da associação. Temos de reconhecer que os clubes estão a ter as mesmas despesas e zero de receita, e a associação está a colocar a cabeça debaixo da areia, faz de conta que não está a ver nada, e isso não está correto. Todos nós estamos a ser penalizados quer a nível pessoal, quem a nível profissional. E a nível de clubes, não sei se não haverá alguns clubes que vão mesmo fechar. Na Associação de Aveiro já houve um que fechou. Não sei se poderão vir a fechar mais. A Escola Livre, se não tivesse vindo para aqui, era outro a fechar. Não sei se isto não terá um efeito dominó.

Há uma realidade negra na modalidade…

Há uma realidade muito negra a nível nacional. A formação não arranca, claro que a Escola Livre não é exemplo porque não tinha formação, mas tenho informação, como estou ligado à modalidade, que clubes vizinhos que tinham 300 míudos a praticar desporto, neste momento se tiver 50 ou 60 é uma sorte. É dramático isto.

Foi empossado como presidente, trabalho durante um mês, 25 mil euros das dívidas estão pagos. Qual é o seu plano de ação para recuperar o clube?

O nosso plano de ação agora. O clube não se pode manter com a atividade que mantém até hoje, que é só ter um plantel sénior. Isso não faz sentido nenhum. Um clube como o nosso que está no centro da cidade, é um clube que se tem de virar para a cidade, e tem de ter formação, tem de captar novos sócios, porque isto tem de ser um clube de sócios. Nós não somos um clube nem profissional, nem semiprofissional, temos de ser um clube de 100% de sócios, e esse é o grande trabalho que vamos enfrentar.

A receita maior vem das quotas dos sócios?

Maior é difícil porque as despesas de um plantel da segunda divisão são enormes. Só para ter uma ideia a Câmara Municipal atribui um subsídio aos clubes mediante a divisão em que estão. A Escola Livre de Azeméis tem direito a um subsídio de 10 mil euros por época e só para ficar com uma ideia, esses 10 mil euros são absorvidos por taxas e inscrições de atletas e taxas da realização de jogos. Quem é que paga a luz, a água, as despesas do material do plantel que são enormes, o hóquei em patins é uma modalidade em que o material é extremamente caro? Os jogadores, quer queiramos que não, não têm salário, mas têm de ter ajudas de custo, principiante nas deslocações aos treinos e aos jogos. Hoje em dia a Escola Livre tem 150 sócios pagantes, isso equivale a que temos mil e poucos euros de receitas dos sócios.

E qual é o objetivo?

Tenho uma esperança que este ano consiga duplicar os sócios. Também aprovamos em Assembleia que a quota mínima do sócios devia ser de 20 euros. A quota mínima anterior era 12 euros. Eu com 300 sócios a 20 euros, já estou a fazer contas e orçamento para o próximo ano, vamos realizar 6 mil euros, mas que não chega. Francamente é pouco. Sabe a pouco. Se não fora a boa vontade das empresas do concelho que nos apoiam muito, e algumas empresas fora do concelho, por influência das pessoas que estão na direção pelas razões profissionais que têm, dificilmente se consegue ter um clube de portas abertas.

Qual é o peso do plantel no orçamento do clube?

Nenhum jogador ganha salário. Temos ajuda de custo de deslocação, numa média de 100 euros por jogador.

Portanto, jogadores que estão na Escola livre de Azeméis é por amor à camisola…

E tem de ser. Não há outra alternativa. Nós temos de ser um clube 100% amador. E foi logo o desafio que lancei quando cheguei aqui, porque não eram esses os valores que os jogadores ganhavam, era muito mais, e a primeira reunião que tive com os jogadores foi chamar os jogadores à razão. A Escola Livre nunca será um clube com um plantel semiprofissional porque quando se recebe subsidio acima de 200 euros já é um semiprofissionalismo.

Foi isso que encontrou?

Em alguns casos sim. Não era transverssal, mas havia alguns casos que sim, e felizmente os atletas entenderam. Oferecer e não cumprir é fácil. Havia uma promessa, mas acho que nunca receberam, porque uma das grandes dívidas era colocar em dia os subsídios aos jogadfores

Quais os objetivos claros da Escola Livre de Azeméis neste seu mandato?

A ver vamos. Se esta época conseguirmos nos manter na segunda divisão já é um grande triunfo. Os próximos anos eu tenho em ideia um projeto que poderá ser ambicioso e interessante para clubes vizinhos nossos que são quase profissionais…

Transformar a Escola Livre de Azeméis num clube satélite?

Para dar oportunidade a jogadores… O que eu quero é que a Escola Livre seja um plantel jovem. Jogadores que saem do sub-20 e não tem capacidade de ingressar no plantel sénior, a Escola Livre será o clube indicado para esses jovens. Para isso temos de criar boas condições no pavilhão, ter uma relação humana acima da média, porque só com a relação humana é que esses jovens atletas reconhecem e acreditam no projeto. E ainda há bem pouco disse que nunca seria minha ambição chegar à primeira visão. As pessoas inteligentes mudam opinião, só os burros é que não mudam. Depois começar a ter a noção da realidade, não sei até que ponto não seria ambicioso com estes jovens chegar à primeira divisão.

Mesmo sendo a Escola Livre um clube satélite.

Por exeplo o FC porto tem uma equipa B, a Sanjoanense tem uma equopa B, e a Oliveirense agora não tem. Mas essas equipas B se chegarem à segunda divisão e ficarem em primeiro lugar não podem subir, mas se andarem na Escola Livre podem. E é esse o meu projeto. É propor aos clubes que têm ambição e um orçamento muito grande terem aqui os jovens, a praticar a modalidade que gostam, com a ambição de chegar à primeira divisão. Porque não? Se chegarmos à primeira divisão não é para lutar pelos primeiros lugares, mas dar oportunidade a esses jovens de ganhar rodagem para os poder lançar para outros voos. Porque no dia em que convidar os clubes que quero convidar para fazer parte deste projeto…

Já pensou nos clubes que quer convidar?

É o clube da terra que é a UD Oliveirense, que irá ser sempre o principal clube da terra, mas que tem atualemte uma vertente muito profissional, e que fecha portas a muitos jovens, e a Escola Livre tem de ser a alternativa. A Escola Livre é um clube da cidade e tem de ser alternativa à Oliveirense. Nunca irá ser um clube concorrente da Oliveirense. Se a Oliveirense aceitar este projeto, no dia que haja um jogador a jogar na Escola Livre e a Oliveirense diga que precisa do jogador, esse jogador será cedido imediatamente. Esse será o caminho. Estou a falar de chegar à primeira divisão porque acho que é possível. Eu vejo jovens com muito talento e que se perdem. E se esses jovens derem uma oportunidade, eles têm uma ambição que é jogarem um dia num Porto, num Benfica, num, Sporting, num Oliveirense. E esse jovens vindo com ambição poderão chegar longe.A Escola Livre vai ter de ser um clube eclético. Não vai ter só hóquei, vai ter outras modalidades.

Disse que a Escola Livre vai voltar a ter formação. Será para quando?

Dentro da normalidade… Uma coisa é certa e segura a Escola Livre vai ter formação. A Escola Livre vai ter de ser um clube eclético. Não vai ter só hóquei, vai ter outras modalidades.

Quais são essas modalidades?

Todas aquelas que se venham propor à Escola Livre serão recebidas de braços abertos. Qualquer jovem, ou qualquer pessoa, que queira instalar na Escola Livre uma secção que não seja o hóquei, dentro das nossas possibilidades, será bem recebido. O intuito da Escola livre é tornar o clube eclético e com isso trazer simpatizantes para o clube, trazer sócios ao clube, e tornar o pavilhão com vida, porque o pavilhão está muitas horas fechado

Já há algum projeto?

Temos muitas ideias. O projeto concreto estamos agora a fazer. Traçamos um plano com a direção, temos isso em papel, para demonstrá-lo aos nossos patrocinadores, para demonstrar que estamos a fazer um trabalho sustentado. E que vale a pena.. Vamos ser realistas. O retorno que esses patrocinadores nos dão é mínima. Dão-nos por simpatia. Agora, acho que temos um trabalho mais facilitado demonstrando que o dinheiro que eles dão à Escola Livre é bem empregue, e há o dever social de todas as empresas da cidade. Eu sou empresário e tenho a consciência que tenho um dever social. Sempre que eu encaro uma instituição que está a lutar pelos interesses sociais da cidade, é meu dever e é minha obrigação comparticipar. Há muitos empresários que não pensam assim, mas é a minha maneira de pensar.

Sendo empresário de uma empresa renome. É fácil seguir os dois caminhos?

No meu caso em particular vou procurar que seja fácil, embora eu tenha interesses profissionais até na área desportiva, daí que eu quero abster-me um pouco de participar nos jogos concretamente, porque por vezes de cabeça quente dizem-se coisas que não se devem dizer e posso ser mal interpretado. Há um ditado que diz que quem corre porque gosto não se cansa, e o hóquei em patins para mim é uma paixão. Tive uma grande parte da minha formação na Escola Livre. Comecei na Oliveirense, mas vim muito jovem para a Escola Livre. Fiz alguns anos de sénior também na Escola Livre. O meu pai esteve ligado à Escola Livre. A Escola Livre deu-me uma parte fundamental na minha formação…

E está na altura de devolver aquilo que recebeu…

… está na altura de devolver aquilo que recebei porque a Escola Livre, não só como clube, mas as pessoas que aqui estavam eram, sem dúvida, pessoas enormes.

(pode ver a entrevista em vídeo no início deste artigo)

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