Domingo, 30 de Novembro de 2025
Domingo, 30 de Novembro de 2025

Limpa palato eleitoral e uma volta ao sol

> O jornalista Samuel Santos completa a primeira volta ao Sol das suas Cartas de Algibeira. O tema desta crónica é, inevitavelmente, as eleições autárquicas.

«Quando lá chegares já fecharam as urnas.»
«São 18h47 em Portugal Continental e na Madeira, decorrem os últimos minutos para votar nas eleições autárquicas.»

Quis este outubro que, pela primeira, votasse em cima das 19 horas. Na rádio pública há lembretes sobre sondagens à boca das urnas, fervor que esbarra na falsa pacatez em redor da sede da Banda de Música de Santiago de Riba Ul. Ora, de manhã, famílias e grupos de amigos por ali se aglomeraram, cruzando longas conversas, enquanto o trânsito se adensava. Faz parte da celebração democrática.
18h55. Fato de treino, casaca, uma longa entrevista em revisão – para lá da hora de expediente – e planos furados quanto à noite eleitoral. Os três boletins mal mergulham na urna – sensação atípica, mas positiva.

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No regresso ao carro, enquanto estaladiças folhas se quebram a compasso, miro o céu rosado, com ténues traços alaranjados e uma fina nuvem carregada. Fenómenos científicos oportunamente aproveitados para alegorias. Para trás fica a tal falsa pacatez, pois a ansiedade é ensurdecedora entre responsáveis por mesas de voto e representantes partidários. Daí a momentos as urnas são esvaziadas, surgem especulações sobre resultados e as expectativas desaguam no confronto com a realidade ou na recompensa pelo rumo delineado. Noite dentro, sensações díspares.

O balanço acontece quando a “ressaca” viabilizar discursos ponderados. Em todo o caso, apenas o quadriénio vai definir vencedores e vencidos.

Nas ruas e rotundas restam cartazes maioritariamente desatualizados – e desnecessários – e para a história ficam algumas campanhas vazias, candidatos bacocos, trocas de galhardetes, a inexistência de debates e a persistente aproximação da política local de campanhas para associações de estudantes. Ao invés de a humildade dominar, prevalece o orgulho e a ignorância, fielmente acompanhados por identidades ocultas nas redes sociais.

Foram meses prolíferos em narrativas sobre habitação e economia, mas escassos quanto a cultura, ensino e jornalismo – em vias de extinção – espelho das prioridades de uma pirâmide que se pretende construir pelo topo e em benefício de uma minoria. Foram também semanas ricas quanto à identificação de problemáticas. Ora, há que aprimorar a coesão, moldar a paleta, desbloquear obstáculos e avançar com convicção.

Em suma, que os novos ou renovados mandatos sejam compostos com ética, transparência, coragem, proximidade, comunicação – também no digital – humildade e sem tabus, com as “botas no terreno”, num processo alheio a cores ou egos. Como li em cartazes: «Por Todos». Salvo o crescimento de um partido antidemocrático e o subtil decréscimo da abstenção, a democracia continua a vencer em Azeméis – e com muito por onde florescer.

Neste “corre-corre” dos meses, desvendo a 25.ª Carta de Algibeira, que assinala a primeira volta ao sol desta viagem (2 de outubro). Obrigado a todos que investem preciosos minutos nesta leitura, partilhando críticas, interpretações e sugestões. Este é o lugar de todos. Abril de ‘74 entregou-nos a responsabilidade de enriquecer a história daqueles que se cruzam na nossa maratona. No fim, valerá mais do que qualquer pedaço de papel depositado numa urna.

Façamos a diferença, pelo bem comum, e levemos a vida com a merecida leveza. Seguimos viagem.

Santiago de Riba Ul, 15 de outubro de 2025

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Uma resposta

  1. Parabéns, Samuel, pelas execelentes Cartas de algibeira. A sua leitura é sempre prazerosa. Que sejas iluminado e resiliente para lhes dares continuidade e que a sua leitura seja disseminada por mais leitores.

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