O Centro de Estudos Ferreira de Castro (CEFC), sediado em Ossela, manifestou-se contra a construção de um edifício que diz contrariar os desejos desse escritor quando doou a respetiva residência ao município de Oliveira de Azeméis, onde nasceu.
Em causa está o projeto para criação de um centro interpretativo que, segundo a instituição especializada na obra de Ferreira de Castro, “destrói grosseiramente a quinta e o jardim” da casa-museu do romancista, “indo contra a vontade expressa pelo próprio ao doar este património aos oliveirenses, a 30 de dezembro de 1967”.
Carlos Castro é o diretor do CEFC e cita o documento original da doação realizada pelo autor que se notabilizou pelo romance “A Selva”: “A parte rústica deverá ser mantida com o seu aspeto atual, substituindo-se as árvores existentes, quando caídas ou secas, por outras da mesma espécie, não se devendo praticar outras culturas que não sejam as que atualmente se praticam – vinha, centeio, feijão, batata, pomar, horta e demais culturas arvenses, isto é, as culturas praticadas na infância do doador”.
O diretor do CEFC realça que “esse compromisso foi aceite e assinado em escritura pública pelo então presidente da Câmara, Artur Correia Barbosa”, e afirma que o mesmo espírito estava subjacente ao plano inicial do seu sucessor Ápio Assunção, quando em 2004 esse autarca propôs a criação do referido espaço interpretativo.
“Ao contrário, porém, do que sucedia no anterior projeto [de Ápio Assunção], que procurava conjugar harmoniosamente o edificado com a área vegetal envolvente, o atual destrói grosseiramente a quinta e o jardim”, defende Carlos Castro.
Para esse especialista na obra do autor de “Emigrantes” e “A lã e a neve”, “ao desrespeitar a vontade do doador, bem como o compromisso por si tomado, a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis torna-se agente de um atentado patrimonial e de um dano à memória histórica e cultural do concelho – e, tratando-se de Ferreira de Castro, um escritor central da primeira metade do século XX português, também à do país”.
O assunto já motivou uma petição pública que, em poucos dias, foi assinada por 114 pessoas, entre as quais, sobretudo, artistas, docentes universitários e a própria ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima.
O documento subscrito por esses cidadãos diz-se “vigorosamente contra esta destruição, instando a Câmara Municipal a repensar o seu projeto” e apelando a que todos os que partilham da mesma preocupação assinem a petição.
2 respostas
Como é possivel, acontecerem coisas destas? Fazerem essas modificações é alterar a vontade do escritor que doou as coisas com uma ressalva que urge respeitar.
O que haverá por detrás dessas novas ideias?
Que pena, este povo estar tao deficiente, em cidadania e cultura.
A salvaguarda do património precisa urgentemente de pessoas que saibam do oficio e que não vão atrás de modas ou cedam a prováveis interesses que muitas vezes parecem ser muito nebulosos.
Pois pois a cegueira de apresentar obras faz com que não se REPEITEM compromissos, ainda por
cima escritos, tudo pela insanidade cultural e a outra insanidade de mostrar obra, normalmente esses senhores usam óculos de CABEDAL.