Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024
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Tinta a secar

> Apresentação de Samuel Santos, o novo cronista do jornal azeméis.net que trará todos os meses Cartas de Algibeira.

Alguns anos passaram sobre a última carta manuscrita recebida, ou, pelo menos, assinada por alguém que não uma empresa. O hábito de dedicar cartas terá, porventura, desvanecido antes de eu nascer – em ‘99 – mas tal rotina sempre me encantou. Pela variedade de temas, pelo espaço finito ou pelo risco imediato de a narrativa ser contrariada pelo quotidiano.

Ora, estas cartas desapareceram, entre outros motivos, pelo desenvolvimento de ferramentas alternativas para a comunicação, infinitamente rápidas e, alegadamente, menos dispendiosas. E, claro, porque a caligrafia evoluiu para percetível.

Assim, com a maioria dos fatores da comunicação sob controlo, esmoreceu a ânsia de compilar novidades, de descrever imagens impossíveis de registar, de recuperar momentos para que a memória não os interprete como menos importantes. As relações caíram numa espécie de marasmo, no qual não pedimos por novidades, meramente surgem. Para nós e para outros milhares. Não somos assim tão “fora de série”, sejamos humildes. Afinal, somos meros seguidores ou “amigos das redes”.

Este foi o primeiro ponto para as “Cartas de Algibeira”, a contracorrente à banalização das relações e dos aspetos que nos englobam, enquanto meros desconhecidos. Em simultâneo, devo atribuir créditos a Eça Queiroz, uma vez que “A Capital” maturou esta vontade.

Tal obra, publicada há 99 anos, foi o derradeiro romance deste génio, amante de longas descrições e outrora jornalista. “A Capital” relata os desígnios de Artur Covelo, jovem oliveirense que estudou em Coimbra e se iludiu por Lisboa.

E o elo a esta brincadeira das cartas?

Antes de rumar a Lisboa, Artur atreveu-se a escrever no jornal da então vila de Azeméis.
Aliando a paixão da escrita – e o coincidente percurso de Azeméis-Coimbra-Lisboa – ao anseio de partilhar com conterrâneos memórias, constatações e críticas, propus apresentar cartas que guardo. A maioria no disco rígido mais efémero, a mente.

E quem és tu?

Um mero oliveirense, nascido às portas da cidade, alérgico às elites, mas próximo de todos. Sensível aos detalhes, crítico da “gentrificação” e da soberba, e apaixonado pela essência que nos mantém esperançosos. Em suma, um jornalista natural de Santiago de Riba-Ul, geralmente mergulhado em ideias para escrever. Assim, o que se poderá esperar são renovados motivos para debate e partilha.

A meta será, precisamente, criar um espaço – digital, por agora – no qual estes devaneios sejam lidos, interpretados e, até, criticados e contrariados.

Será um lugar democrático, a caixa de correio de meros conterrâneos, com aspetos que nos unem, ora de forma visível, ora pelas sensações.

Para início de viagem, devo esclarecer que não dedicarei muita tinta ao desporto.

Esgoto esse “plafond” no quotidiano profissional. Em todo o caso, publicarei episódios sobre a UD Oliveirense e a Escola Livre. Quiçá, numa tarde de domingo seja avistado no futebol distrital. Quiçá.

Por agora, conservo o ímpeto para a escrever sobre a cidade, os lugares ímpares e a relação de “amor-ódio” com a atualidade. Poderão, por isso, esperar de tudo, desde idas ao dentista às visitas a uma papelaria no princípio do ano letivo. De uma tarde de domingo de outono, ao amargo de ver Azeméis “sufocada” pelo betão.

Duas cartas a cada mês, para não cansar a mente, com data de arranque para outubro. Conto com todos, de voz viva e livre.

Por fim, uma nota.

Certos dias escreverá o Samuel Santos, noutros o Jeremias Valente.
A responsabilidade? De Fernando Pessoa.

Então, qual é qual?

É esse o desafio. Até breve!

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