“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os sociais, os corporativos e o Estado a que chegámos, Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o Estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”
Foi desta forma que o capitão de Abril, Salgueiro Maia, se dirigiu aos jovens militares da Escola Prática de Cavalaria em Santarém. Eram sensivelmente 01H30 horas da madrugada do dia 25 de Abril de 1974.
Miguel Martins 1º cabo condutor de AML, um jovem militar de apenas 21 anos, não hesitou. Saiu e formou. Tomou a decisão de lutar por uma causa nobre. E naquela madrugada fez parte integrante da coluna de Salgueiro Maia. Foram 240 homens: um esquadrão de reconhecimento com 10 viaturas blindadas, um outro esquadrão de atiradores com 12 viaturas de transporte de pessoal, 2 ambulâncias e 1 jipe. Eram 03H30 da madrugada saíram de Santarém e seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura. O Miguel Martins entendeu que o que o que estava em causa, era a liberdade de um povo, refém de uma ditadura com quase meio século, que o não respeitava e oprimia, e onde os jovens, na idade dos sonhos e fantasias eram mandados combater para uma guerra que durava há 13 anos.
E foi a liberdade e a guerra colonial que nos aproximou. Juntos partilhámos tertúlias, dando testemunho das nossas experiências de vida, do valor da liberdade e da necessidade de todos os dias lutar por ela. Foi nessas tertúlias que pude aferir da sua dimensão ética e do valor da amizade. Foi nesses encontros que me permitiu conhecer um homem que num corpo franzino, incorporava os valores da Liberdade, da Lealdade e da Solidariedade. Era um homem sereno e tranquilo o Miguel. O herói de uma causa nobre deixou-nos aos 71 anos. Foi a sepultar no cemitério de Macinhata da Seixa, concelho de Oliveira de Azeméis, no dia 7 de junho.
*Por Olímpio Costa