Há 51 anos, Portugal efetivou o processo de libertação do regime ditatorial, caminho interminável e repleto de obstáculos. Abril de ‘74 representou a vitória do humanismo sobre o medo, a queda de amarras sobre direitos, perspetivas e possibilidades. Meio século e um ano volvidos prevalecem arestas por limar. Entre direitos conquistados – e deveres inerentes – debruço-me sobre a liberdade de criação.
Uma “urtiga” de Azeméis está no pessimismo em relação aos jovens – alvos de generalizações bacocas. Na verdade, o seu fervor está plasmado em iniciativas políticas e religiosas, movimentos culturais, associações de cariz social ou desportivo, e projetos digitais. Na maioria dos casos, fazem-no em prol do bem comum, pelo que é injusto precipitar ilações sobre os “netos de Abril”.
Decorria 2019 quando Manu – desde a infância em Cucujães – e Tiago – nascido na Escravilheira – se aventuraram por palacetes, quintas, hotéis, parques aquáticos, salões de jogos, seminários, sanatórios e demais lugares esquecidos na herança dos séculos de Portugal. E nem a pandemia os travou. Enquanto compilavam (des)aventuras no perfil “I Know Places” – “Eu Conheço Lugares” – o percurso profissional obrigou a afinar a bitola. Como tal, em novembro de 2021, inauguraram o “Conhecer Azeméis” – Instagram e Facebook – na ânsia de promover as maravilhas e a essência de Azeméis, por via de vídeos e fotografias.
Sem apoio dos verdadeiros responsáveis por esta tarefa – quiçá incomodados – Manu e Tiago contribuem para o enriquecimento do concelho, atraindo conterrâneos, forasteiros e “influencers”, distribuindo ecos pelo território nacional. A custo zero, percorrem pelas freguesias e travam conhecimento com ícones que completam álbuns, cronologias e itinerários. A viagem destes jovens está longe do fim, com tanto por descobrir e concretizar.
Também por estes audazes aventureiros se fez Abril. Sem os valores que conduziram à Revolução dos Cravos, jovens como Manu e Tiago seriam impedidos de suscitar debate, expor fragilidades, revelar histórias e elevar o percurso de inúmeras personagens. Sem Abril, este serviço público e independente seria mera utopia.
Onde escutar o sonho desta dupla, para lá das redes sociais? São presença assídua nos condados da Escravilheira – onde residem – e de Cidacos, mas também na La Salette e na Ideal. Sorte a nossa por contar eles. E poderia referir outros projetos, com’O Alternativo, Bandevelugo ou Pont. OColetivo. Estes oliveirenses entregaram-se à árdua missão de enriquecer a região, confirmando a essência e importância dos “netos de Abril”.
A revolução de ‘74 também se fez pelos eternos insatisfeitos – os velhos dos Marretas – pelos acomodados e pelos verdadeiros responsáveis por divulgar o concelho, amarrados em dinâmicas do passado. Abril fez-se por todos, numa oportunidade única de a humildade viabilizar a aprendizagem com o outro.
Deixo a tinta a secar ao som de Zeca, José Mário Branco, Fernando Tordo, Ermelinda Duarte, Dulce Pontes, Simone de Oliveira, Carlos Mendes e Paulo de Carvalho, na certeza de que Azeméis será maior quando os jovens forem escutados. Olhos nos olhos, sem medos, sem amarras. Basta uma oportunidade.
Viva Abril! Viva a liberdade e a Democracia!
Santiago de Riba-Ul, 24 de abril de 2025