Hoje tomo a palavra por escrito — não por escolha, mas por impossibilidade de o fazer em assembleia de freguesia. A sessão foi extraordinária, e, aparentemente, essa classificação impede a intervenção do público na forma habitual e, note que digo “aparentemente”, pois ainda não encontrei base legal que o justifique. Mas, ultrapassado esse pormenor, importa ir ao essencial: a aquisição de um novo trator cabinado pela Junta de Freguesia de Carregosa, motivo pela qual se convocou a assembleia extraordinária de ontem.
Trata-se de um investimento total de 54 mil euros, adjudicado à empresa AgroFeira, com 32.200 euros suportados diretamente pelo orçamento da Junta, 7.800 euros comparticipados pela Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis e 14 mil euros resultantes da retoma do antigo equipamento. Não é demais lembrar que este investimento foi anunciado na última assembleia de freguesia do mandato anterior, a menos de duas semanas da data das eleições. Acaso? Não me parece, uma vez que o calendário não é irrelevante e, porque em política, o tempo das decisões diz tanto quanto o seu conteúdo. Assim sendo, é até legítimo perguntar se a urgência na compra não terá servido também um propósito mais simbólico do que funcional: o de tentar mostrar obra feita num momento eleitoralmente sensível.
Mas enfim, adiante, na última assembleia do mandato anterior, o então secretário da Junta referiu que entre 80% e 90% do trabalho do trator era o transporte de águas residuais, resultante do esvaziamento das fossas sépticas. Ora, durante a recente campanha eleitoral, a atual presidente, que então se recandidatava, garantiu repetidamente que o saneamento básico avançaria em larga escala, cobrindo a maior parte do território carregosense e, na assembleia extraordinária de ontem, o mesmo secretário confirmou que a cobertura prevista rondará 85% da freguesia. Fica, então, por esclarecer quais as ruas abrangidas pelo saneamento e quais ficarão de fora, e, questão não menos importante, qual foi o critério de seleção das zonas contempladas.
Voltando ao tema, gostaria de concluir, deixando aqui o meu contributo para uma reflexão: se o saneamento vai abranger grande parte das habitações, que necessidade há de investir dezenas de milhares de euros num novo trator, cujo principal uso deixará de existir a médio prazo?
Mais ainda, a Câmara Municipal já abriu o concurso público para a execução das obras de saneamento, com um prazo de 730 dias, ou seja, dois anos, como tal, o equipamento servirá, na melhor das hipóteses, para um curto período antes de se tornar subutilizado.
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Ficaremos, com certeza, à espera de perceber no que é que o trator poderá ser utilizado depois de já não ser tão necessário no esvaziamento das fossas dos cidadãos, tendo a absoluta certeza que não justificará pagar, no total, 54.000 euros num equipamento tipicamente depreciativo.


