A festa de São Luís Rei de França, uma celebração com raízes profundas no lugar de Figueiredo, poderá em breve ser eternizada num documentário que pretende captar a sua importância cultural e histórica. Este projeto, ainda em fase de angariação de fundos, visa preservar e destacar uma tradição que, pelo menos há 100 anos, tem reunido anualmente forasteiros e residentes em torno da romaria popular.
O documentário, idealizado por Adalberto Pinto, neto de moradores de Figueiredo, pretende ser uma homenagem a esta tradição e à comunidade que a mantém viva. Adalberto, cujos pais começaram a namorar na própria festa, está agora a liderar a iniciativa para angariar os apoios financeiros e logísticos necessários para concretizar este projeto. O documentário será realizado por um grupo de jovens. Além de Adalberto Pinto – que frequenta o mestrado em Comunicação e Gestão de Indústrias Criativas na FLUP –, todos os outros membros são estudantes no mestrado em Realização – Cinema e Televisão na ESAP.
A produção, que conta com o apoio técnico da Escola Superior Artística do Porto (ESAP), depende ainda de contribuições da comunidade local, das autarquias e de outras entidades interessadas na preservação do património cultural.
Mais do que um simples projeto cinematográfico, este documentário pretende sensibilizar para a importância de preservar as tradições que definem a identidade de Figueiredo, garantindo que as histórias e os valores que moldaram a vida da aldeia sejam transmitidos às gerações futuras.
“Acho que está na altura de repensarmos a forma como temos vindo a descuidar a cultura popular. Os meus avós começaram a namorar no S. Luís. Os meus pais também. Se não fosse a festa, possivelmente hoje não estaria aqui. E, assim como eu, quantos não poderão dizer o mesmo? “. refere o produtor.
“Estas festividades – um pouco por todo o país – estão umbilicalmente ligadas à forma como construímos a nossa identidade coletiva e os laços dentro das comunidades. Estas festividades – acrescenta ainda – fazem parte de quase todos nós. E este documentário é sim! uma homenagem ao S. Luís e a todos aqueles que o mantêm vivo. Mas não só! É também a vontade de trazer para a esfera pública o tema das festas populares. Especialmente no concelho de Oliveira de Azeméis, onde, mesmo na sombra, estas festividades estão a desaparecer gradualmente e não se vê ninguém a falar sobre isso”, acrescenta
“Se os decisores políticos locais não estão interessados em falar neste tema, se têm outras agendas, que apoiem quem quer fazê-lo. E, tendo em conta os hábitos hodiernos de consumo de informação, nada melhor do que um documentário – uma obra fílmica que pode ser exibida quer no salão paroquial, no cinema ou nas redes sociais – para fazer o tema chegar ao máximo de pessoas possível. Porque, em causa, não está só a identidade das pessoas de Figueiredo, ou do Pinheiro da Bemposta. Em causa, está o futuro que estamos a construir e a forma como queremos fazê-lo”, conclui.
A Junta da União de Freguesias de Pinheiro da Bemposta, Palmaz e Travanca e a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, reconhecem a pertinência do documentário. A Câmara Municipal sublinha “a urgência em capturar as memórias dos habitantes mais velhos e a importância de aproximar os jovens das suas origens, enquanto a Junta de Freguesia destaca o papel crucial do suporte fílmico para transmitir estas tradições às gerações futuras”.
Quem foi São Luís?
São Luís, nascido em 1214 e falecido em 1270, foi um dos reis mais admirados de França, conhecido pela sua fé profunda e vida dedicada à simplicidade, humildade e caridade. O santo, que reinou de 1226 até à sua morte, foi canonizado pela Igreja Católica, tornando-se um dos poucos monarcas a alcançar tal honraria. Anualmente, Figueiredo celebra a sua memória numa festa que, além de ser um evento religioso, é também um marco de identidade e coesão comunitária.
Apesar das transformações ao longo dos anos, como a evolução no formato das comissões de festas – que passaram de exclusivas de homens para incluir, no ano passado, uma comissão composta exclusivamente por mulheres – certos aspetos tradicionais permanecem intactos. Um deles é o trabalho das mordomas, responsáveis pela decoração do recinto com cordas e balões, meticulosamente confecionados nas semanas anteriores à festa.
Uma resposta
Parabéns pelo vosso comentário, eu achei muito interessante! E também sou da geração de começar a namorar nesta festa de São Luís.