Segunda-feira, 4 de Novembro de 2024
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Fernando Tavares, o serralheiro que ajudou a combater as chamas em Ossela com um trator

> José Santos, presidente da Junta de Freguesia de Ossela, afirma que este herói anónimo merece uma medalha de mérito municipal.

Na freguesia de Ossela, uma das mais afectadas pelos incêndios em Oliveira de Azeméis, pede-se uma medalha para o jovem serralheiro Fernando Tavares, de 27 anos, que andou a apagar fogos no mato com o seu trator Lamborghini e, assim, salvou várias casas.

A ideia foi avançada por José Santos, presidente da Junta de Freguesia de Ossela, nos primeiros dias do grande incêndio que lavrou na freguesia este ano. “O rapaz merece uma medalha de mérito municipal. Andou horas e horas de tractor a ‘assapar’ o mato, salvou a casa dele, a dos pais e a dos avós, e ainda ajudou muitas outras pessoas em volta, ao apagar o fogo nos terrenos mais próximos”, afirmou. 

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Numa das ruas de Bustelo do Caima, um dos primeiros focos de incêndio na freguesia, beneficiaram desse voluntarismo. Enquanto alguns bombeiros controlavam as chamas e outros almoçavam debaixo de uma árvore segura, deitados no cimento da rampa de acesso a uma garagem, os moradores das casas ao lado varriam montes de cinza junto ao portão e falavam dos sustos da noite.

“A minha irmã acordou lá pela uma da manhã, ao ouvir um barulho esquisito, e quando foi ver já eram labaredas de fogo a arder perto de casa”, contou Maria Martins Santiago. “Foi uma aflição toda a noite e muito nos acudiu o Fernando, sim senhora, que bem merecia uma medalha por andar aí a arriscar a vida dele só para nos ajudar”, afirma.

Cordato e pronto a arrancar para a zona de Mosteiro de forma a ajudar nas operações nesse lugar, o tão falado jovem de 27 anos exibia o cansaço nos olhos claros e brilhantes. Começou no seu combate ao fogo, quando houve outro incêndio em Ossela, e, desde então, ao longo de três dias dormiu apenas “umas quatro horas”, ao ritmo de “uma de cada vez”.

A sua intenção inicial era salvar a serralharia da família e impedir que o fogo chegasse às casas de outros parentes. Para isso, subiu para o volante do seu trator Lamborghini de 60 cavalos de 1989 – “outro trator não aguentava isto”, garante – e, atrelando-lhe uma capinadeira florestal de cadeados, percorreu quilómetros de terreno por socalcos estreitos, assapando mato rasteiro em chamas e extinguindo-as sob o peso dos cadeados.

“Logo ao início, a bateria do trator pegou fogo e tive que parar, mas tirei-a cá para fora, apaguei as chamas — que eram de lixo a voar — e encaixei tudo outra vez“, revela, explicando que nestas lides vai sempre munido de um extintor e de dois garrafões de cinco litros de água.

A vizinhança diz que “ele arrisca, mas não é irresponsável”, porque Fernando já foi bombeiro durante sete anos na corporação de Oliveira de Azeméis e só a deixou quando o voluntariado se revelou incompatível com vida profissional e familiar. É dessa costela de bombeiro que lhe sai a energia, quando, depois de tratar dos terrenos mais próximos das casas da família e dos vizinhos, vai abrir mato noutras zonas da freguesia, para facilitar aos bombeiros no ativo a entrada nos terrenos.

Em casa o jovem serralheiro deixou duas meninas pequeninas, com quem a esposa dorme durante a noite, para lhes acalmar o medo gerado pelo crepitar noturno de chamas e floresta. Ela diz que não tem remédio senão deixá-lo ir; ele diz que não consegue ficar parado.

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