Quinta-feira, 2 de Janeiro de 2025
Quinta-feira, 2 de Janeiro de 2025

A força de uma torre iluminada

> Se uma cidade iluminada atrai centenas de pessoas, o que conseguirá uma cidade repleta de pessoas iluminadas?

No princípio de dezembro, o centro de Oliveira de Azeméis assistiu, com distinta expectativa, à inauguração da mais aclamada árvore de natal, com mais de mil pessoas em redor. Ainda que não tenha sido um evento inesquecível, milhares de olhos não descolaram daquela torre iluminada, tal o fascínio pelos tons e mosaicos. Durante largos minutos, poucos foram aqueles que arredaram pé, ora na expectativa de algo mais acontecer, ora pelo acesso debate. De facto, a luz tem uma força impressionante sobre os humanos. Mas, já lá vamos.

Naquela noite, nem o futebol impediu os oliveirenses de preencherem o centro citadino, panorama reservado para noites festivas. Para meu espanto – e alegria – a rua pedonal estava repleta de analistas, de os olhos fixados nas iluminações e nos enfeites. Afinal, em Azeméis, também é possível “arrancar” as pessoas de casa. Aliás, a julgar pelo encerramento generalizado do comércio local, não fui o único surpreendido pela vontade de os oliveirenses se passearem e lotarem as poucas esplanadas ao dispor.

Durante aquelas horas notei espíritos leves, por certo influenciados pelos ventos natalícios. Eis o epicentro desta carta: se uma cidade iluminada atrai centenas de pessoas, o que conseguirá uma cidade repleta de pessoas iluminadas? Refiro-me aos pequenos gestos, aqueles que tendemos a preservar.

Numa década atormentada pelo agravamento de guerras em redor do globo, urge abdicarmos dos pequenos conflitos e do arremesso de argumentos fúteis. Porventura a mente alerte para a sensação de contranatura, já que a sociedade foi edificada em competição, cortando elos e apostando a paz em prol do vazio. Invejas, contradições, recados, esquemas, armadilhas e manias de quem nem do destino é dono. Afinal, ao invés de vivermos em sociedade, muitas vezes sobrevivemos entrincheirados nas tentações do ego.

Alheado deste xadrez permanece aquele que é capaz de relativizar, de rapidamente organizar os pensamentos e de seguir em paz. Quiçá flutue sobre a existência e se questione sobre as nuvens que nos arrebatam. Será um vulto? Utópico? A melhor versão de todos nós, capaz de alumiar o caminho dos outros.

Uma cidade repleta de pessoas iluminadas é um lugar idílico, onde as vontades conjugadas resultam em sucessivas mãos estendidas, prontas a ajudar, dispensando elogios e recompensas. A nossa cidade poderia ser esse lugar, pois proliferam nobres causas. Todavia, um pormenor atrapalha a meta: os humanos.

No nosso código genético está atravessado o ego e entranhada a ânsia de ser maior. A sede por algo mais, a inveja e o desprezo. Tememos a paz? Serão estes pequenos e efémeros conflitos – vazios – o combustível que nos cega? É a nossa essência, em eterna mutação. Resta definir o rumo.

“Se o amor faz sofrer, se a paixão faz doer, o que o ódio fará?” – Clã

No novo ano, sejamos os primeiros a depor as armas, a empunhar cravos e a regar o jardim comum, reforçando a humildade e vontade de conviver em democracia – esse termo, tão gasto e mal empregue. Às crianças ensina-se a respirar e a contar até dez antes de se falar. E aos adultos, quem ensina a inverter a bitola da sociedade armadilhada até à ponta da língua?

Se uma torre iluminada é capaz de reunir milhares de curiosos, imaginem a força de uma cidade apetrechada de genuína boa vontade. Neste novo ano, agarremos o espelho e analisemos a alma antes de apontarmos o dedo, de enumerarmos os defeitos do outro e de – irracionalmente – ferirmos os que mais amamos. Da minha parte, garanto que vou reler esta carta ao longo de 2025. E, provavelmente, ao longo da vida. Porque, tal como quem me lê, sou feito de carne e osso, de vícios e manias, de armas e guerras vazias. Há que semear a paz. Agora.

Que 2025 contribua para o fim da hipocrisia e do rancor. Aproveitemos o raiar do sol a cada manhã e sejamos genuínos – não arrogantes – na nossa humilde forma de alumiar o caminho do outro. Que 2025 seja repleto de luz, para que até as noites mais escuras e dúbias sejam arrebatadas pela alma, na certeza de que nunca estaremos sós.

Um novo ano pleno de luz, amor e saúde. Obrigado pela leitura. Eu e o Jeremias Valente voltaremos. Até breve!

Santiago de Riba-Ul, 12 de dezembro de 2024

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3 respostas

  1. Pequenos pontos de luz, juntos, alumiam o caminho.
    Sejamos um pouco utópicos… na esperança de um mundo um pouco mais pacífico e solidário.

  2. São jovens como tu que me fazem ter um raio de esperança para melhorar o que nos rodeia e o Mundo. Mentes iluminadas que espalhem amor, paz e solidariedade entre as pessoas. Estamos rodeados e sobrecarregados de notícias que espalham ódio e rancor… por isso abençoados os iluminados♥️♥️♥️

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