Após meses de empenho e tentativas de angariar apoio, os jovens cineastas liderados por Adalberto Pinto anunciaram o abandono do projeto de documentário sobre a Festa de S. Luís, em Figueiredo. A decisão resulta da ausência de financiamento por parte da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis que, segundo o promotor, deixou a equipa sem qualquer alternativa viável para avançar com o projeto.
“O apoio da Câmara Municipal foi sempre a premissa para a concretização do documentário”, afirma Adalberto Pinto, sublinhando que o projeto, pela sua natureza de interesse público, requer uma responsabilidade que as empresas privadas, focadas no lucro, não podem suprir. “Sabemos que esta é uma iniciativa de interesse público e cabe à Câmara defendê-lo, mas, ao longo de meses, só recebemos desculpas esfarrapadas e uma total ausência de compromisso.”
Adalberto Pinto não poupa críticas à gestão do processo por parte das autoridades locais, acusando-as de falta de transparência e de desconsideração pela vontade da população. “Ao longo de várias reuniões e contactos regulares, quer com a Câmara quer com a Freguesia, recebemos sempre respostas evasivas e desculpas desconexas, como a ‘dificuldade em responder a tempo’ ou a justificação de que seria ‘demasiado caro’ financiar o documentário.” O cineasta considera estas justificações superficiais e insuficientes, afirmando que “nunca houve uma fundamentação racional e plausível”.
Recebemos sempre respostas evasivas e desculpas desconexas
A comunidade de Figueiredo, que acolheu o projeto com grande entusiasmo, ofereceu apoio financeiro simbólico e mostrou disposição para participar do documentário. A atriz Ângela Pinto, natural de Figueiredo, ofereceu-se para impulsionar a visibilidade do projeto. Apesar disso, Adalberto Pinto receia que a apatia prevaleça agora entre a comunidade, dada a sua reação tradicionalmente passiva à falta de apoios e interesse político.
“Tenho muita consideração pelas pessoas de Figueiredo e entristece-me ver a passividade com que olham para a política local. Já não estamos no tempo do fascismo. Vivemos numa democracia. E não há democracia quando um Presidente acha que pode decidir somente de acordo com a sua vontade, sem ouvir os seus munícipes, sem dialogar, e sem considerar os seus desejos”, afirma o coordenador do grupo de cineastas.
Perda de identidade
A desistência do projeto representa, segundo Adalberto, uma perda significativa para a identidade e memória coletiva da região. “A urgência em fazer o documentário prendia-se com a necessidade de cristalizar a memória das pessoas com idade mais avançada. Quem dera que não acontecesse, mas quando desaparecerem os nossos avós, os nossos pais, a memória desaparece com eles. De que adianta conseguir financiamento daqui a 10 anos se já não temos a memória para gravar?”.
A equipa apela à responsabilidade das autoridades e exige uma justificação pública: “Utilizámos todos os meios para chegar às pessoas e perceber se o documentário era do interesse delas. Agora, queremos que o Presidente da Câmara e a Presidente da Junta expliquem aos munícipes e fregueses as razões por detrás desta decisão e porque desconsideram a vontade da população e a preservação do património cultural local”.
Sentimento de frustração
No entanto, a experiência deixa a equipa com um sentimento de frustração e desencanto em relação às instituições locais. “Os titulares de cargos públicos mostraram estar mais focados nas suas agendas pessoais do que na vontade dos seus munícipes. É uma realidade que revela um fosso na consciência democrática desta administração, e é com tristeza que constatamos a falta de visão para valorizar e preservar a identidade da população. E não se trata só de Figueiredo. Em Figueiredo teve de ser a população a propor uma solução: o documentário. Quando ninguém propõe? Esquecem-se. A cultura não são só concertos e exposições“, lamenta Adalberto Pinto
“E se nem o vereador com a pasta nem o presidente percebem isso, está na hora de darem lugar a quem o faça e de se justificarem. Os eventos culturais não servem para angariar votos para as eleições nem para fazer figuras bonitas. E quando assim é: estamos condenados a morrer sem saber quem somos”, conclui.
Uma resposta
Infelizmente o Sr Presidente da câmara e a presidente da união de freguesias não fazem nada ou muito pouco pelos municípes