Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024
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São João da Madeira e Santa Maria da Feira com mil despedimentos num ano na área do calçado

> Desde o início de 2023 que se verificou o encerramento das fábricas Siaco, João Gomes Fernandes, Camilton, Constantino & Moura e RAP, em São João da Madeira, e das firmas Impecável, António Correia Alves, Factorun Pele e Christian Dietz, em Santa Maria da Feira.

O encerramento da fábrica de calçado Relance, que demitiu 30 pessoas, fez subir para 1.000 os despedimentos do último ano em unidades do setor de Santa Maria da Feira e São João da Madeira, revelou hoje o sindicato.

O cálculo é da presidente do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio de Calçado, Malas e Afins (SNPIC), que afirma que a cessação de atividade da Relance, este mês, na freguesia de Pigeiros, em Santa Maria Feira, é apenas o mais recente de uma série de encerramentos definitivos nos referidos dois concelhos do distrito de Aveiro.

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“A Relance pagou tudo aos seus empregados e vendeu o pavilhão porque não estava a ter encomendas suficientes para continuar em funcionamento”, declara Fernanda Moreira, referindo que, dos 30 profissionais dispensados nessa firma, “a maioria já está empregada outra vez, em fábricas da região”.

O problema da perda de encomendas tem sido, contudo, o principal motivo para o fecho de outras unidades de produção de calçado na zona desde o início de 2023 e, entre esses encerramentos, a dirigente sindical destaca nove: no concelho de São João da Madeira, os das fábricas Siaco, João Gomes Fernandes, Camilton, Constantino & Moura e RAP; e, no município de Santa Maria da Feira, os das firmas Impecável, António Correia Alves, Factorun Pele e Christian Dietz.

“No total, essas empresas representaram uns mil despedimentos porque estamos a falar das fábricas de maior dimensão nos dois concelhos”, afirma Fernanda Moreira.

Desse total de rescisões, cerca de metade dos trabalhadores já terá conseguido nova colocação profissional, no que foram privilegiados montadores, gaspeadeiras e até “os funcionários com mais idade, porque são os mais assíduos e os que dão menos faltas para assistência aos filhos”.

A presidente do sindicato nota, ainda assim, que às nuk rescisões nas 10 fábricas já referidas se acrescentam outros despedimentos e enquadra-os em dois tipos de contexto: por um lado, o das empresas com quadros reduzidos de pessoal, pelo que, ao encerrarem em definitivo, despediram um número pequeno de funcionários; e, por outro, o das unidades que, embora continuando em atividade, “também estão a passar algumas dificuldades, até porque dependiam de encomendas das tais fábricas maiores, que desapareceram”.

A esse panorama acrescentam-se ainda as reorganizações com vista a maior sustentabilidade financeira das estruturas existentes, como é o caso da multinacional dinamarquesa Ecco, que em março anunciou a dispensa de 54 dos cerca de 900 trabalhadores da sua unidade de Santa Maria Feira.

Fernanda Moreira defende, no entanto, que “a situação está a estabilizar” e conclui: “Acredito que isto vai melhorar nos próximos tempos”.

O número de desempregados registados no Instituto do Emprego e Formação Profissional com origem na indústria do couro e produtos de couro, onde se inserem os setores do calçado e curtumes, aumentou mais de 80% no último ano, passando de 2.455 para 4.435.

Segundo os dados mais recentes do (IEFP), relativos ao mês de fevereiro, os trabalhadores desta indústria correspondiam, há um ano, a 0,9% do total de desempregados inscritos, mas já pesam atualmente 1,5%.

No sábado, e contactado pela Lusa, o diretor de comunicação da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) disse estar em curso um “reajustamento” no setor face ao “ano completamente extraordinário” de 2022, em que “as exportações aumentaram mais de 20% e a fileira criou praticamente 4.000 postos de trabalho”.

Segundo a APICCAPS, o “reajustamento” a que se tem vindo a assistir desde 2023 “tem a ver com a dinâmica que aconteceu na indústria do calçado a nível internacional”, fruto da conjuntura económica, e que se traduziu numa quebra de 11% das importações europeias e de 30% nas importações americanas, sendo que estes dois mercados representam, juntos, mais de 90% das exportações do calçado português.

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