Junho de 2009, final de tarde e derradeiras horas enquanto aluno na Escola do Outeiro. Há porco no espeto, bolos, crianças a correrem, pais a brindarem, irmãos e primos no campo sintético, música alta e a certeza de que um ciclo terminara. Sem o saber, sentia saudades e receio. Aquele era um porto seguro, rodeado por amigos de berço. Por isso, as lágrimas escorreram com naturalidade quando lia um texto dedicado a Helena Ferreira, professora que abraçou a nossa turma em setembro de 2006.
«Vou ter tantas saudades», balbuciei, abraçado pelos amigos de sempre.
A professora Helena era basilar, respeitada e querida no Outeiro. Afinal, era a diretora, portadora de postura inabalável e sorriso sincero. Uma mulher de armas que me ensinou sobre ética, carácter, foco, paciência e tranquilidade. Nunca se inibiu de aplicar consequências sobre ações, nem de premiar os bons momentos. Recordo, em particular, o “empurrão” para perseguir sonhos e não temer o futuro. Ajudou-me a limar ímpetos e vontades, e a descobrir esta essência que carrego.
Um legado que guardo e no qual procuro inspiração. A primeira mestre entre os professores com os quais tive o privilégio de crescer. A professora Helena representou, ademais, o fortalecer do elo entre amigos do berço – Diogo, Catarina, Mariana, Andreia, Lígia, João, Rita e Ricardo – antes de o destino definir os diferentes rumos. Inevitável.
Naquela tarde de junho de 2009 – com o cabelo a atingir proporções recorde e ridículas – conheci a saudade, a sensação de que é impossível recuar no tempo. E ainda bem que assim o é, para que possamos valorizar os diferentes momentos. Afinal, nesta maratona, a perceção de “porto seguro” subsiste sob mutação.
Nas habituais viagens de carro constato que o pátio e o relvado do Outeiro continuam repletos de vida. Como aquela escola merece. Ali reside parte da nostalgia de infância, das saudades de amigos, professoras, da D. Graça, de aventuras e desamores. Naquele lugar prevalece o farol que alumia a rota para a plenitude.
Escrever sobre a querida escola primária permite-me recuar a inúmeras peripécias, a enaltecer elos e referências como a professora Helena. Esta carta serve de singela homenagem a uma pessoa que merece o maior dos reconhecimentos, pois cultivou o bem na certeza de que ajudaria a salvar o Mundo.
Num contexto idílico, todas as crianças, jovens e pais teriam a oportunidade de conviver com alguém como Helena Ferreira, professora com o dom de formar pelo humanismo e pela paixão do ofício.
Obrigado, professora Helena.
«O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.» – Fernando Pessoa.
Santiago de Riba-Ul, 30 de junho de 2025
Uma resposta
Parabéns Samuel pelo fantástico artigo sobre alguém realmente especial!