A ANIR – Associação Nacional Imprensa Regional escolheu a Biblioteca Municipal Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, para o primeiro encontro nacional da imprensa regional, que se realizou no dia 4 de outubro. Num momento particularmente difícil para a comunicação social local, cerca de uma centena de editores jornais locais, alguns deles centenários como são os casos do ‘Aurora do Lima’, de Viana do Castelo(169 anos), ‘O Comércio de Guimarães (140 anos), reuniram-se com o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que também tem a tutela a comunicação social, e ouviram em primeira mão algumas das mexidas previstas no apoio à sustentabilidade da comunicação local (apresentadas no dia 8 de outubro), e tiveram também oportunidade de relatar em viva voz as dificuldades que o setor atravessa.
“Para mim é muito claro que vivemos uma crise no setor da comunicação social que decorre essencialmente do modelo de negócio tradicional associado à comunicação social ter desaparecido. Não por culpa dos mesmos, mas por vários fatores designadamente a evolução tecnológica, que fez com que os hábitos de consumo das pessoas sejam outros muitíssimo diferentes. É uma crise estrutural, porque não há ninguém que possa dizer que os fatores que conduziram à crise vão desaparecer, pelo contrário vão agravar-se. Esta tendência digital não vai andar para trás, nós temos de assumir que se não tivermos noção do mundo que estamos a viver e dos desafios, vamos ter mais dificuldades”, afirmou o ministro Pedro Duarte neste encontro.
O ministro com a tutela da comunicação social reuniu-se várias vezes com players do setor nos últimos meses, tendo recebido vários contributos verbais e escritos de muitas entidades e temos tentado construir um plano minimamente integrado e sólido. “Penso que podemos dizer que, pela primeira vez, estamos a construir qualquer coisa de robusto face à crise que o setor está a viver”, afirmou.
O plano de ação das medidas de apoio à comunicação social foi apresentado no dia 8 de outubro pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, aguardando agora discussão. No documento de propostas estão, por exemplo, o apoio à contratação de jornalistas, formação empresarial, e a obrigatoriedade da publicidade de anúncios dos projetos financiadas por fundos europeus. Está também a ser trabalhada a portaria que obrigará efetivamente a publicação das deliberações autárquicas nos jornais regionais e locais.
“O Estado tem a obrigação de ajudar a comunicação social pelo seu papel. Ainda para mais a comunicação local uma vez que mais ninguém consegue fazer o seu papel“, realçou Pedro Duarte. Sobre o plano de ação que será, no início, algo experimentalista.
“Isto vai ser um plano experimentalista, é muito tentativa e erro. Ninguém tem uma fórmula mágica para resolver o problema da comunicação social. Vamos ter de ir adaptando o plano e as medidas conforme formos pondo em prática”, explicou.
Raio-X pela direção da ANIR
Eduardo Costa, presidente da ANIR, e proprietário de um jornal centenário, o Correio de Azeméis, realizou um raio-x para explicar a verdadeira realidade do setor, e também do acesso à informação no país. “São cerca de 60 municípios que não dispõem de órgão de Comunicação Social credível. Serão centena e meia, segundo recente estudo da ERC. Também uma preocupante realidade: já não há jornais impressos a fazer a cobertura noticiosa frequente em 182 concelhos de Portugal, o que representa uma percentagem de 59%”, elucidou.
Com estes factos, o líder da associação que representa a imprensa regional em Portugal deixou um apelo ao ministro da tutela: “Temos que reverter esta situação que afeta diretamente a democracia, senhor Ministro!”.
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NÚMERO
182
Número de concelhos no país em que já não existem jornais impressos a fazer a cobertura noticiosa frequente.
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A dívida de Azeméis à comunicação social
A Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis fez-se representar neste encontro nacional da imprensa regional com ministro dos Assuntos Parlamentares pelo vice-presidente, Rui Luzes Cabral. Na sua intervenção, o autarca reconheceu que “Oliveira Azeméis tem uma dívida muito grande à imprensa regional” uma vez que “o jornalismo é um garante da democracia”.