Esta carta foi “estreada” na noite de 9 de dezembro, na Assembleia Municipal realizada na Biblioteca Municipal Ferreira de Castro.
No romance “A Capital”, o último de Eça de Queiroz, o escritor descreve Oliveira de Azeméis como uma vila silenciosa e humilde, da qual os jovens procuram sair. Um século volvido, Azeméis evoluiu e afirmou se. Ainda assim, persiste um estranho sentimento de inferioridade face aos “vizinhos”. Neste concelho edificado por gentes de fibra em várias indústrias, continua a florescer talento, arte e coragem, sem descurar a memória. Então, que amarras nos impedem de dar o passo seguinte?
Movido pela paixão jornalística – entranhada na essência – assumi o propósito de desvendar histórias díspares e marcantes, até pelo simples ato de observar e escutar, com a paciência e dedicação de quem leva as padas de Ul ao forno de pedra, madrugada dentro. Desse exercício concluo que neste concelho reside uma essência distinta, de potencial imensurável, de personalidades incógnitas e que não aspiram à fama, como comprovam recentes projetos sociais e culturais dedicados a diferentes faixas etárias. Muitos destes conterrâneos admiram-se do meu interesse. Acontece que desconhecem a luz que transportam.
Além deste brilho humano, impossível de quantificar ou orçamentar, dinâmicas sociais preparadas para meses como dezembro comprovam que Azeméis é capaz de ser referência para diferentes públicos.
Não obstante, esta valorização deve ir além das festividades, o que exige proximidade, aspeto determinante para identificar talento e interpretar o perfil da população, para que pilares como o plano de ação social e o programa cultural sejam distintos, ecléticos e desafiantes, os elos para o concelho rejuvenescer e florescer.
Bem sei que uma população mais bem formada e capacitada será mais crítica e atenta, o que nem sempre é oportuno para determinados agentes. Todavia, só assim cuidaremos deste jardim, e com luz própria.
Entre muitos desafios que o novo ano vai colocar ao executivo reeleito, espero que avance a reestruturação da comunicação em torno do concelho, ora nas redes sociais, ora com a refundação do site. Em simultâneo, deixo três sugestões para debates públicos: o estado da comunicação social de Oliveira de Azeméis; a realidade do comércio local; e o modelo da Assembleia Municipal, elemento central na democracia regional, mas subvalorizado e esquecido.
Caríssimos, tenho orgulho em me afirmar como santiaguense e oliveirense. E este sentido de pertença desafia-me a ser insaciável. Grato, mas insaciável, como Eça de Queiroz e José Maria Ferreira de Castro. Se nos unirmos – ao invés de nos anularmos e fragmentarmos – edificaremos uma cidade e um concelho distinto, de todos.
Talvezseja utópico, quiçá exija muita humildade e sinergias, mas a vida não foi arquitetada para aqueles que se acomodam. O sonho é uma constante e comanda a vida.
“Se uma torre iluminada é capaz de reunir milhares de curiosos, imaginem a força de uma cidade apetrechada de genuína boa vontade. Neste novo ano, agarremos o espelho e analisemos a alma antes de apontarmos o dedo”
Escrevi-o há um ano. Renovo estes votos, desejando um 2026 prolífero, com coragem e humildade. Que nunca nos falte a luz. Que nunca nos falte Oliveira de Azeméis.
Santiago de Riba-Ul, 9 de dezembro de 2025

