Segunda-feira, 14 de Julho de 2025
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Esperar pela Natureza é virtude

> Samuel Santos está à porta dos 26 anos. Faz um brinde à vida e espera pelos desígnios da Natureza.
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Pela neblina da alvorada observo os girassóis determinados em encontrar a rota solar. O despertar destas flores é apressado por abelhas, vespas e libelinhas que se cruzam sem “pisca”, enquanto – na terra – o pelotão de formigas segue distante de melros, pardais, pegas e andorinhas. Longe da gravilha, do ruído citadino e do fumo industrial, estes corajosos visitam o quintal tingido de castanho, verde, amarelo, rosa, laranja e lilás – tela que exige cuidado persistente, para que a natureza proceda à magia oculta ao olhar humano. Sem forçar resultados e acautelando dissabores.

Afinal, a natureza é soberana, determina rumos e aplica lições sobre transformação e resistência. Enquanto observo o saltitar de melros e pegas, identifico paralelismos simbólicos: a rigidez das raízes – sobretudo das silvas – e a perseverança do que cultivamos. Acompanhar o brotar de sementes, folhas e flores permite concluir que a essência reside na imprevisibilidade – mensagem que serve de motor ao acordar, até quando a realidade contrapõe o verão, sendo crua, fria e chuvosa.

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Tal como em qualquer quintal ou jardim, também as “raízes” humanas exigem cuidados, estando, inevitavelmente, sujeitas a estações, ciclos e necessidades. Por isso, os elos secam, surgem, desaparecem, escondem-se, reaparecem e reformulam-se. Ora, mutação permanente, como a natureza. O melhor será aceitar estes desígnios, para que eventuais desencontros não desaguem em remorsos. Por mais que nos indaguemos, a vida segue o seu curso, sem retorno, sem travão – descartando perceções de estagnação.

Algum rumo seguirá.

Em pleno julho, a neblina desfila e convida a chuva. Ao observar o sistema de rega natural sobre o quintal, nesta alvorada fresca, verifico a queda de folhas, surgimento de frutos, antecipação e atraso de processos. Cada qual leva o seu ritmo, autónomo ou dependente, agressivo ou passivo. Assim é a travessia, repleta de simbolismos, tantas vezes gelada ou a escaldar, efémera ou demorada, contraponto do idílico e do infernal. É esta a nossa condição, em contraste com a paz da natureza. Mas tudo se resolverá e brotará, a seu tempo. Há que cuidar, permanecer, analisar e resolver.

À porta dos 26, faço votos para que os elos continuem a ser regados, podados e protegidos. Nunca descuidados. Quando me devolver à distração, que a rega de outrem me acorde – felizmente nunca estaremos sós. A natureza continua a ensinar, em todas as frentes, exigindo mais e melhor. Aproveitemos a estadia.

Um brinde ao novo ano. A vida segue bela e imperfeita. Pois, como diz o meu irmão Dinis, é na «imperfeição que reside a beleza da vida».

Santiago Riba-Ul, 10 de julho 2025

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