Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024
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As regras do jogo

> Opinião de Any Onofre, professora e ex-vereadora da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis.

Já se perguntaram o que torna um jogo interessante? O que faz milhões de pessoas gostarem de assistir a jogos, ou de jogar? Eu acredito que seja algo muito simples: o prazer de fazer mais e melhor do que o oponente, mas vencendo por mérito próprio, sem fazer batota. Ou o jogo perde totalmente a piada. Já não é jogo. É um «fora de jogo». É jogar sem regra. É ser vencedor sem mérito…

A vida, toda ela, é feita de jogos. E para se vencer há dois caminhos: ou se é mesmo bom. Ou joga-se sujo. Nas relações, no trabalho, na comunicação social, na política, na guerra. Ganhar é, assim, um conceito delicado. Porque há quem ganhe, perdendo. E há quem perca, ganhando.

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O mundo neste momento assiste a um jogo, com uma arena real. Com oponentes que se batem, literalmente, até à morte. Mas este jogo tem uma particularidade que desvirtua o conceito de jogo e o torna um antijogo. Um dos oponentes, Putin, em nome da Rússia (até nisso é cobarde) forçou o outro oponente, a Ucrânia e o seu povo, a jogar com regras desleais. Não se trata de um jogo com fair-play. É o jogo de um gigante bully que não hesita em recorrer a batotas múltiplas, que mente, que engana, que espanca de forma sádica, que usa armas que não são aceitáveis para lutar contra um «anão». E jogos assim não dão prazer, causam repulsa, causam indignação, causam algo terrível: ódio, vergonha alheia, revolta.

Talvez por ter sido sempre uma acérrima defensora da paz e do diálogo, não sei o que chamar ao que sinto, mas tenho a certeza de uma coisa: esta guerra rasgou o mundo em dois. Sem apelo nem agravo. Os que torcem pelo «anão», que tem lutado como lutam os vencedores, com toda a garra que a razão lhe dá, com a coragem de quem tenta salvar um filho, um irmão, a sua família, mas é o «elo fraco», porque joga sozinho e em desvantagem. E os que escolhem o jogo sujo, que não respeita regras, que atenta contra os direitos civilizacionais e a dignidade humana e ficam do lado do «poderoso» Putin. Um homem que não vai parar até destruir tudo. Ou ser destruído…

Por isso deixar que Putin continue a fazer a sua guerra terrorista, a roubar, a violar todas as convenções, a impor o seu lado sádico, a quebrar todas as regras significa que o mundo livre perde para o bully. Deixar Putin continuar a jogar sem regras é permitir que o jogo seja manipulado, desvirtuado, corrompido. Putin não é um «butcher», como num momento de indignação o Presidente Biden disse. Um carniceiro é alguém que trabalha num emprego duro, mas legal. Putin é um terrorista, em nada melhor que um taliban, um criminoso. E os criminosos são julgados e presos. E quando o presidente Biden disse que um líder assim não tem dignidade nem legitimidade para continuar no poder, era exatamente isto que queria dizer, e bem, embora a diplomacia americana tenha tentado adoçar a pílula, porque não quer irritar o bully Putin.  

Putin não é um líder, é um terrorista com poder e armas e, infelizmente, tentar dialogar com terroristas é inútil

Um líder é alguém que sabe que as regras do jogo são para respeitar. É nesse princípio que assentam os alicerces da justiça e do progresso. Putin não é um líder, é um terrorista com poder e armas e, infelizmente, tentar dialogar com terroristas é inútil. Precisamos de ação, enquanto os diplomatas e os políticos tentam dizer ao bully para se portar bem. Precisamos lutar ao lado do corajoso anão porque é ele que neste momento representa e defende todos os valores em que o mundo livre acredita. Da forma que pudermos e soubermos, temos, todos, de gritar incessantemente um não veemente à guerra terrorista de Putin.   

Não sei qual será o desfecho final deste jogo sem regras. Sei que, tal como António Guterres disse, enquanto presidente da ONU, esta é uma guerra em que não há como vencer. Porque demasiado sangue foi derramado de forma estúpida, inútil, bárbara. Mas dentro de mim há outra certeza. O povo ucraniano com a sua coragem estóica, o seu presidente Vladimir Zelensky, que independentemente de falhas, que também terá, se revelou um verdadeiro líder, já ganharam moralmente esta guerra.

 Putin, seja qual for o resultado, já perdeu. É um líder que nunca mais será credível em termos políticos. Colocou-se ao nível de um Bin Laden, um Kim Jong-Un ( o presidente da Coreia do Norte que gosta de brincar de forma aparvalhada aos mísseis, mas é  filho e herdeiro  no «trono da ditadura»  de um brutal ditador , Kim Jong-Il, responsável por um ameaçador programa nuclear ),  um Xi Jinping ( presidente da China , um ditador que acumula riqueza para o estado, num país em que  150 mil chineses vivem com menos de 1 dólar por dia e entre 250 mil e 300 mil dissidentes políticos estão confinados a “campos de reeducação pelo trabalho”), de um Ebrahim Raisi, o ultra conservador presidente do Irão, ou dos recém instalados talibãs no Afeganistão, que seguem no mesmo role de brutal repressão da liberdade e respeito pela dignidade humana. Putin mostrou ser um bandido como eles. Perdeu o respeito do mundo livre. É um homem sem palavra. Diz uma coisa, faz outra. É um governante de cartel, um louco com mania da perseguição. Um homem sem limites, capaz de sacrificar o seu próprio povo, como está a fazer. Um homem gélido, sem escrúpulos, um perigo real e sério para o mundo. Que não vai parar…até ser parado.

Termino dizendo que um líder que não sabe jogar limpo, que não tem a coragem de jogar segundo as regras, nunca pode ser um homem que se leva a sério. Outra vez o repito: na vida, nas relações, numa empresa, na política é assim. Putin, moralmente é um cadáver. Seja qual for o desfecho desta guerra, que poderá ser cruelmente injusto, a sua «pegada» na história da humanidade será a de mais um sócia de Hitler que, tal como ele, aspirou a uma grandeza que nunca mereceu ter. Um homem sem ética que matou sem remorsos. Um líder menor que não sabe respeitar as regras do jogo e, só assim, sem dignidade, consegue «vencer» as suas batalhas pessoais. Grande epitáfio, não é?

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